6 de ago. de 2010

O ''ENTRESSAI'' (OU ''SHOPPINGS'')

''Dize á Sabedoria: Tu és a minha irmã;
e ao Entendimento chama teu parente;
para te guardarem da mulher alheia,
da estranha que lisonjeia com palavras.

Porque da janela de minha casa,
por minhas grades, olhando eu,
vi entre os simples, descobri entre os jovens
um que era carecente de juízo,
que ia e vinha pela rua junto á esquina da mulher estranha
e seguia o caminho da sua casa,
á tarde do dia, no crepúsculo,
na escuridão das noites, nas trevas.

Eis que a mulher lhe sai ao encontro,
com vestes de prostituta e astuta de coração.
É apaixonada e inquieta,
cujos pés não param em casa;
ora está nas ruas, ora, nas praças,
espreitando-se por todos os cantos.
Aproximou-se dele, e o beijou,
e de cara impudente lhe diz:
Sacrifícios pacíficos tinha eu de oferecer;
paguei hoje os meus votos.
Por isso, saí ao teu encontro,
a buscar-te, e te achei.
Já cobri de colchas a minha cama,
de linho fino do Egito, de várias cores;
já perfumei o meu leito com mirra,
aloés e cinamomo.
Vem, embriaguemo-nos com as delícias do amor, até pela manhã;
gozemos amores.
Porque o meu marido não está em casa,
saiu de viagem para longe.
Levou consigo um saquitel de dinheiro;
só por volta da lua cheia ele tornará para casa.

Seduziu-o com as suas muitas palavras,
com as lisonjas dos seus lábios o arrastou.
E ele num instante a segue,
como o boi que vai ao matadouro;
como o cervo que corre para a rede,
até que a flecha lhe atravesse o coração;
como a ave que se apressa para o laço,
sem saber que isto lhe cudstará a vida.

Agora, pois, filho, dá-me ouvidos
e sê atento as palavras da minha boca;
não se desvie o teu coração para os caminhos dela,
e não andes perdido nas suas veredas;
porque a muitos feriu e derribou;
e são muitos os que por ela foram mortos.
A sua casa é caminho para a sepultura (sepultura=sheol=inferno)
e desce para as câmaras da morte.''

(Bíblia, Provérbios 7:4-27)


Imaginemo-nos num ''shopping'' ou qualquer centro comercial, e um jovem esteja a observar o movimento nas lojas. Entra gente e sai gente.

Produtos à mostra, ofertas imperdíveis, liquidações, promoções, os bons e os ruins,
do bom e do melhor, como se fosse a última e imprescindível coisa que faltasse para
sua vida ser completa, feliz. As luzes piscam fazendo convite, as cores sugerem uma
necessidade a suprir. Sai gente, entra gente.

Vendedores ansiosos para cumprirem sua metas de venda e engordarem suas comissões.
Com palavras embelezam o produto feio, camuflam o defeituoso, empurram o encalhado.
Entra gente, sai gente.

Mesmo assim, com tanta gente, o jovem sentia-se solitário. Não viera comprar nem
tivera o propósito de olhar para saber se algo interessaria. Apenas queria ver pessoas, estar perto delas, ser um humano a mais na multidão, como um animal no seu
bando. Senhores, senhoras, idosos, jovens, crianças, todos são importantes componentes do quadro, cujas matizes das roupas completam as cores da vida em movimento. Sai gente, entra gente.

Então, os olhos dele aportam em uma beldade morena, saída de uma das lojas. Uma que
não é apenas linda, mas daquelas de dar torcicolo nos inadvertidos. Uma calça justa
realçando formas esculturais, a maquiagem destacando os olhos, uma blusa semi-aberta
apresentando possíveis seios redondos e firmes e um coque emoldurando a cabeça.
Entra gente, sai gente.

Vacilante, o garoto dá-lhe um ''bom-dia'', ela, apenas, sorri, um lindo sorriso,
impúdico, parecendo um convite ao pecado. As mulheres, certamente, sabem que um jovem desconhecido cumprimentando-as no meio da multidão há de querer algo mais.
Encorajado pelo sorriso, aproxima-se e lhe diz ousadamente que, atraído pelo seu sorriso, ''topa'' qualquer coisa com ela. Fingindo-se mais surpreendida do que indignada, ela informaria ser casada, não pretendendo expor-se em público. Ele, captando que poderia avançar, diria não querer compromisso, somente dar-lhe prazer.
O leve sorriso dela, agora, estampa que também carece dessa necessidade, informando
estar no intervalo para o almoço. Aproveitando a deixa, convida-a para acompanhá-lo
ao estacionamento. Para não desperdiçar ocasião, ela não responderia, apenas o acompanharia e entraria no carro. Sentados no veículo, ele seria amplamente correspondido nos beijos e abraços, com direito a outros ''amassos''. O calor interior aflorando, a carne palpitaria, o ''clima'' estaria completo. Precisariam sair dali. Um jovem descompromissado, ela, porém, casada. Saíram, sem palavras, cientes do que queriam. O moço conduz o carro direto para um motel. Param, beijos.
Adentram o apartamento, beijos. Tiram a roupa rapidamente e...Seria como se nunca tivessem feito aquilo. Uma sofreguidão, botões arrancados, roupas ao chão. Atravessados na cama,completariam o primeiro ''round'' daquela luta em que seriam ao mesmo tempo derrotados e vitoriosos, com muito deleite. Aproveitaria a juventude e o vigor do moço para um segundo e terceiro ''rounds''. Ao final, agora, simplesmente derrotados, ela tentaria refazer o penteado a fim de retornar ao trabalho, refeita,
tentando parecer-se com o que fora antes. O jovem procuraria inultimente tirar as marcas em seu pescoço e costelas, tarefa tão difícil quanto explicar a procedência delas para a devotada mãe e protetoras irmãs. Porém, seus irmãos e amigos o invejariam. Com um simples ''até logo''ele a despeja próximo ao trabalho dela. Dessa vez, para ambos, o almoço não seria ganho de peso, e, sim, redução. Possivelmente,
outras batalhas viriam, não com o encanto da primeira, mas haveria. Hoje, seriam só
lembranças. O ainda jovem toca sua vida de casado, agora. Ela administra bem sua família, cauterizada. Todavia, para ele e para ela, a lembrança daqueles momentos seria revivida em seus leitos nos sonhos e/ou fantasias estimuladoras, ou em outros
campos de batalha não tanto encantadores quanto aqueles.

Seriam estes momentos felizes?

Para o humanista, sim, de vez que a boa vida é feita de momentos. E feliz é a pessoa que sabe percebê-los, aproveitá-los e ainda receber dividendos do valioso investimento. Por isso, tanto faz sair como entrar gente na sua vida. Nessa cosmovisão, importante é ser bom para você e para o outro(a). Se você faz o bem e não prejudica a você nem a outrem, deixe a porta de seu coração sempre aberto para que saia e entre gente beneficiada e beneficiando-se da distribuição de simpatia que um sorriso faz no ''entra e sai'' de pessoas de um magazine qualquer.

Na cosmovisão cristã, a estória mostra o descaso e desvario de tratarmos o comportamento social e moral como desprovido de valores éticos. Somos responsáveis
pelos demais seres humanos(v.Rm. l4:13,21). Não fazê-los errarem, aproveitando-nos de suas fraquezas(v.Pv.2:16-19). Busquemos forças em Deus para superarmos nossas próprias deficiências(v.Sl.18:32; 53:10; 118:14). Andar sob controle espiritual para controlar os prazeres físicos(v.Gl.5:16). As emoções são sutis, traidoras, e nos surpreendem, fiquemos atentos. Os personagens da estória não souberam evitar o despertar das emoções, culminando em fornicação para ele e adultério para ela(v.Pv. 5:8,9), defraudaram um ao outro(v.Cl.4:6). Recordar os momentos será a marca da devassidão até o fim de suas vidas (v.Pv.5:11,l2). Precisariam de uma vida feliz sob a proteção de Deus em sua bondade soberana. ''O Senhor guardará a tua saída e a tua entrada, desde agora e para sempre'''(Bíblia, Salmo 121:8).


''A loucura é mulher apaixonada,
é ignorante e não sabe coisa alguma.
Assenta-se à porta de sua casa,
nas alturas da cidade, toma uma cadeira,
para dizer aos que passam
e seguem direito o seu caminho:
Quem é simples, volte-se para aqui.
E aos faltos de senso diz:
As águas roubadas são doces,
e o pão comido às ocultas é agradável.
Eles, porém, não sabem que ali estão os mortos,
que os seus convidados estão nas profundezas do inferno''.
(Bíblia, Provérbios 9:13-18).

Nota:Pv.=Provérbios, Rm.=Romanos, Sl.=Salmos,Gl.=Gálatas, todos na Bíblia.

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